top of page

A inovadora córnea em 3D que poderá recuperar a visão de cegos por opacidade corneana.

  • Luiz Cincurá
  • há 16 horas
  • 3 min de leitura

Em 29 de outubro de 2025, no Rambam Health Care Campus, em Haifa, Israel, um procedimento médico silencioso marcou um dos avanços mais significativos da oftalmologia moderna: o primeiro transplante bem‑sucedido de uma córnea totalmente bioimpressa em 3D, criada inteiramente a partir de células humanas cultivadas em laboratório. A paciente, legalmente cega de um dos olhos, recuperou a visão após receber o implante PB‑001, desenvolvido pela empresa israelense‑americana Precise Bio, especializada em medicina regenerativa e biofabricação de tecidos.


ree

O feito não surgiu do acaso. Segundo a Precise Bio, o transplante é resultado de mais de uma década de pesquisa multidisciplinar envolvendo biologia celular, biomateriais e bioimpressão 3D — um esforço que começou ainda nos anos 2010, quando a empresa foi fundada por Aryeh Batt e pelo renomado pesquisador Anthony Atala, diretor do Wake Forest Institute for Regenerative Medicine, nos Estados Unidos.


A companhia não divulga valores totais de investimento, mas descreve o projeto como fruto de “anos de desenvolvimento científico e clínico”, sustentado por infraestrutura própria de biofabricação instalada no Sheba Medical Center, próximo a Tel Aviv.


A inovação parte de um princípio que pode redefinir o futuro dos transplantes: uma única córnea humana doada pode gerar até 300 implantes bioimpressos, graças à expansão celular e à impressão camada por camada que recria a estrutura transparente do tecido corneano.


O processo é realizado em ambiente GMP (Good Manufacturing Practice), onde células corneanas são isoladas, cultivadas e organizadas em uma arquitetura tridimensional precisa, capaz de integrar‑se ao olho humano e restaurar a função óptica.


O transplante realizado em Haifa, Israel, faz parte de um ensaio clínico de fase 1, que prevê incluir entre 10 e 15 pacientes com doenças endoteliais da córnea. O objetivo inicial é avaliar segurança, tolerabilidade e primeiros sinais de eficácia.


Os resultados preliminares devem ser divulgados no segundo semestre de 2026. Até agora, apenas uma paciente recebeu o implante, mas a resposta clínica foi considerada positiva pelos cirurgiões.


Biologically Printed Cornea – Implanted in a Woman Suffering From Blindness. Fonte: Rambam HCC


O oftalmologista Michael Mimouni, diretor da Unidade de Córnea do Rambam e responsável pela cirurgia, descreveu o momento como “um marco histórico” e “um vislumbre de um futuro em que ninguém precisará viver na escuridão por falta de tecido doador. A declaração ecoa um problema global: estima‑se que, para cada 70 pessoas que necessitam de transplante de córnea, apenas uma córnea doadora esteja disponível — um déficit que afeta mais de 13 milhões de pacientes no mundo.


A repercussão internacional foi imediata. Nos Estados Unidos, o North Carolina Biotechnology Center classificou o procedimento como “um ponto de virada para a oftalmologia regenerativa” e destacou que o PB‑001 é o primeiro implante funcional de córnea bioimpressa já utilizado em um ser humano. Na Ásia, veículos como o Times of India ressaltaram que o avanço pode inaugurar uma era de implantes “prontos para uso”, com qualidade consistente e possibilidade de criopreservação prolongada, superando limitações logísticas e biológicas das córneas humanas tradicionais.


A Europa também acompanha o movimento. Pesquisadores da Suíça, Holanda e Alemanha desenvolvem modelos alternativos de córneas bioimpressas, alguns autoadesivos e baseados em hidrogéis de colágeno e ácido hialurônico, mas nenhum deles chegou ainda à aplicação clínica em humanos — o que reforça o pioneirismo israelense.


Apesar do entusiasmo, especialistas mantêm cautela. Ainda não se sabe quanto tempo o implante bioimpresso permanecerá funcional, já que córneas humanas doadas podem durar até três décadas. Também não há dados consolidados sobre riscos de rejeição ou complicações a longo prazo. A paciente tratada em Israel recuperou a visão após o procedimento, mas o tempo exato entre a cirurgia e a melhora visual não foi detalhado pelas fontes internacionais.


Mesmo assim, o impacto simbólico e científico é inegável. Como afirmou Aryeh Batt, CEO da Precise Bio, “imagine um mundo onde uma única córnea doadora possa dar origem a centenas de implantes cultivados em laboratório, transformando escassez em abundância”. Se os resultados clínicos confirmarem o potencial observado no primeiro transplante, a córnea 3D bioimpressa poderá inaugurar uma nova era — não apenas para Israel, mas para a medicina global.


 

Fontes:


North Carolina Biotechnology Center. (USA). Neal, Kathy. First 3D-bioprinted corneal transplant marks early milestone for Triad’s Precise Bio. Disponível em: <https://www.ncbiotech.org/> Acesso em 19.dez.2025.


VoxelMatters. (UK). Wakefield, Edward. Israeli surgeons implant world’s first 3D bioprinted cornea. Disponível em: <https://www.voxelmatters.com/>  Acesso em: 19.dez.2025.


Rambam Health Care Campus (Israel) – comunicado institucional sobre o transplante Disponível em: https://www.rambamhcc.com/ Acesso em 19.dez.2025.


Times of India. How world’s first 3D printed cornea restored a 70-yr-old’s vision. Disponível em: <https://timesofindia.indiatimes.com/> Acesso em 19.dez.2025.

bottom of page